Saturno devorando um de seus filhos (1) é a imagem que me vem à cabeça quando penso no correr do tempo…
O tempo e implacável não deixa pedra sobre pedra e todos somos devorados por ele. Nas engrenagens do tempo, movimentos aparecem e desaparecem, são reciclados, re-significados são devorados. Cada movimento artístico representando e marcando o que ocorre no mundo, seus medos e suas ansiedades. Após as grandes guerras, o mundo se reinventa e a industrialização marca o cenário. No Brasil a indústria automobilística, o petróleo, a siderurgia e a comunicação explodem no país, trazendo influencias nas artes. As formas da indústria se transformam em arte, novas matérias primas e novas linguagens, assim surgem o concretismo e o neoconcretismo no Brasil. O simbolismo e a abstração estão fortemente presentes nesse movimento artístico. Ocorre uma separação clara do naturalismo para o concretismo. Cores e formas surgem e se entrelaçam na nova arte. Cada região brasileira cria o seu estilo e a sua linguagem de comunicar a nova arte ao mundo. Surgem nomes como: Waldemar Cordeiro, Lothar Charoux, Geraldo de Barros, Ferreira Gullar, Lygia Clark, Lygia Pape, entre outros. Dentro desde cenário nasce em Paraibuna/SP o artista Régis Machado, que iniciou sua produção nos anos 60 e continua produzindo ativamente. Em sua produção constatamos que, de certa forma, o artista tem enganado Cronos, não sendo devorado como todos os seus filhos. Sua produção é intensa, com mais de 50 anos de atividade ininterrupta. De acordo com o critico de arte, Enock Sacramento, “Regis Machado vem construindo, há anos, uma lógica simétrica, cientifica e ordenada no campo da geometria sensivel, uma das vertentes mais poderosas da arte contemporânea; uma obra na linha do plenamente visual, asséptica e essencial.
Na exposição individual o tempo que Esvai, as obras expostas podem ser divididas em três principais grupos que, de certa forma, representam sua carreira. Podemos perceber que o artista se mantém fiel aos princípios construtivistas, mas sempre investigando novas possibilidades estéticas. Regis mantém a curiosidade e inventividade de um garoto que se inspira em tudo que encontra pelo caminho: uma gaveta, uma caixa, um pedaço de madeira, uma tábua de MDF, tubos de PVC… que são transformados em obras de arte com formas coloridas, geométricas, tridimensionais. A série mais exuberante desta exposição é composta de 4 obras tridimensionais de parede e uma escultura, estes são os trabalhos mais antigos do artista presentes nesta mostra. Régis, brinca com as formas, cores fortes e textura das obras, instigando o observador a buscar os sentimentos que essas obras trazem. A série mais recente (entre 2017-2018) é composta de objetos tridimensionais, em sua maior parte todos brancos com pequenos detalhes coloridos, sendo o oposto do conjunto das obras mais antigas. Esses objetos flertam com o minimalismo, apresentando o mínimo possível de cores e, ao mesmo tempo, mantém o principio básico do construtivismo, despertando a curiosidade do público para sua representação. A série de objetos manipuláveis é feita com gavetas, e assim como a série Bichos da artista Lygia Clark, podem ser manipulados e reconfigurados pelo público, permitindo que observador brinque com os trabalhos e componha novos objetos a partir da obra original. Como na canção Oração ao Tempo (2) Régis parece ter feito um acordo com o senhor Tempo para se manter inventivo e criativo, conservando o prazer de um garoto que não espera o tempo legitimo para criar.
1 – Saturno devorando seus filhos – pintura de Francisco Goya, de 1820
2 – Oração ao tempo, música de Caetano Veloso, de 1979
Régis Machado nasceu em Paraibuna em 1944, e vive em São José dos Campos. Frequentou atelier de Anderson Fabiano, Lúcio Moreira e Quissak Jr. Participou de várias mostras em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador e muitas cidades do interior paulista. Sua última individual em uma galeria comercial foi na Galeria Miriam Badaró, em 2015. Tem premiações em diversos salões de artes, dentre eles: Salão de Arte Contemporânea de Campinas, Bienal Nacional de 1977, Salão de artes da grande São Paulo, 1º Salão Luz e Movimento (MAM- RJ), Salão de arte Contemporânea de Santo André, dentre outros.
1 – Saturno devorando seus filhos – pintura de Francisco Goya, de 1820
2 – Oração ao tempo, música de Caetano Veloso, de 1979