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EXPOSIÇÕES

Exposição Norte, um pouco a Oeste – Isis Gasparini

Isis Gasparini tem um olhar inquieto e aventureiro. Esta exposição, Norte, um pouco a Oeste, reúne fragmentos de três ensaios – TravessiaVermelho e Era preciso o corpo olhar para fora – realizados em diferentes países e em tempos distintos. Curiosamente, o território analisado é o mesmo: os espaços museológicos onde as obras permanecem, temporariamente, em estado de repouso. O principal foco da sua investigação está centrado no fluxo dos corpos que atravessam esses espaços expositivos e na atenta observação do seu potencial de movimento.

Nos últimos anos, Isis vem se firmando como uma artista multidisciplinar – fotografia, vídeo, instalação, dança e coreografia – e sua atitude é transgressora e experimental. Aliás, ela cria e registra imagens que intrigam justamente porque exigem nossa atenção. Exigem um mergulho num interior poético aparentemente desconhecido. Seu procedimento está centrado na captação de uma visibilidade imprecisa que desafia nossa percepção.

Travessia foi realizado nos museus de Paris. O que interessava na ocasião era percorrer aqueles espaços sacralizados e silenciosos a fim de observar os circuitos de passagem. Entender como se dá a interação entre o espectador e a obra. Na verdade, Isis discretamente seleciona os ângulos e os enquadramentos oblíquos que possibilitam uma melhor compreensão dos sutis movimentos que acontecem nos museus. Ela evidencia um fluxo pré-visualizado pelo dispositivo que estabelece uma espécie de roteiro que é percorrido pelo visitante. Mesmo que possa parecer improvável, depois de muitas horas de observação, foi possível entender que há um direcionamento previsível das posturas diante da obra, bem como um fluxo indutivo de gestos múltiplos que ampliam a experiência do ver.

A série Vermelho é bem mais intensa e provocativa. Talvez a principal questão para Isis nessa série desenvolvida nos museus de Nova York era compreender como a luz, invasiva e teimosa, determina e transforma o espaço. A mesma luz que gera desenhos improváveis e provoca um irresistível desejo de movimento. O vermelho é simbólico – recupera a luz do laboratório fotográfico, a tensão que há em alguns dos trabalhos de Cildo Meirelles e Mark Rothko – e surge através do uso de uma gelatina aplicada sobre a lente para criar um ambiente monocromático de uma inquietude fluída e contemporânea. O Vermelho nos obriga a trilhar o caminho sinuoso da memória que, evidentemente, nunca é neutra. A cor filtrada insinua as diversas camadas da imagem – delicada e mágica. Adentramos no denso e misterioso espaço e percorremos com os olhos as sutilezas das baixas luzes predominantes. Um espaço sedutor e minimalista.

Isis Era preciso o corpo olhar para fora também foi produzida em diferentes espaços museológicos e nos direciona para outros enigmas. A luz, que invade as salas e as obras, agora é filtrada por uma espécie de membrana que permite um olhar para fora. A membrana cobre a janela, mas não completamente, e através dela é que Isis exercita sua inteligência poética. Ela propõe um questionamento sobre as imagens vistas através dessas tramas: um exterior indefinido que se distancia do referente e se transforma em abstrações. A horizontalidade da paisagem gera diferentes volumes e viabiliza uma contemplação que é ofuscada pela imprecisão dos contornos.

É preciso desacelerar o mundo para ver mais e melhor. Penetrar nos interstícios das baixas luzes e das sombras misteriosas para apreender as imagens gestadas no apagamento dos excessos e na valorização dos detalhes que clamam por uma visão mais qualitativa. A proposição do conjunto Norte, um pouco a Oeste, que ainda traz um vídeo e algumas imagens ampliadas em tecido que flutuam no espaço da galeria, é perturbar nossas percepções, embaralhar e confundir nossa visão condicionada pelo óbvio, revogar a ilusão perspectivista e possibilitar uma experiência que afete nossos sentidos. Com tudo isso a instalação permite uma multiplicidade de sobreposições e configurações pouco previsíveis, com uma leveza desconcertante.

A exposição denota uma coerência estética nos diferentes ensaios. Isis observa os gestos e as pausas, busca as sutilezas do movimento, cria artifícios e camadas que ofuscam a imagem, mascaram, abrem caminhos e propõem novas possibilidades de caminhar. Nesse sentido, sua vivência com a dança e a coreografia viabiliza e legitima sua fotografia quase performática que apreende, com desejo e singularidade, a experiência do espaço e do tempo.

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Rubens Fernandes Junior – Pesquisador e Curador de Fotografia, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, professor e diretor da Faculdade de Comunicação da FAAP.

Isis Gasparini, 1989 [vive e trabalha em São Paulo] é artista e professora, atua na dança e nas artes visuais, mestra em Poéticas Visuais [ECA-USP, 2017], Bacharel em Artes Plásticas e Especialista em Fotografia [FAAP, 2011 e 2013]. Bailarina com formação técnica e atuação em cias independentes.

Desenvolve projetos que tem como matérias centrais: corpo, imagem, luz, e trajeto. Pensa esses elementos como presenças que habitam exposições diversas e ativam diferentes respostas no corpo de cada espectador. Seus trabalhos articulam audiovisual, coreografia e instalações e sua pesquisa caracteriza-se pela investigação crítica e poética do corpo e seu potencial de movimento na relação com uma obra de arte ou instituição. Assume o olhar como uma performance que implica todo o corpo e investiga a constituição de espaço expositivo como um elemento determinante que interfere politicamente nas relações entre espectadores e obras de arte.

Participou de diferentes programas de Residência Artística como a Cité Internationale des Arts (Paris-França, 2014), o 7th Choreographic Coding Lab (Belo Horizonte-Brasil, 2016) e residiu por um mês em ateliê no Brooklyn (Nova York-EUA) no início de 2019. Ainda em 2019, realizou as individuais Era preciso o corpo olhar para fora no Escritório de Arte Fasam em Belo Horizonte e Norte, um pouco à Oeste na Galeria Poente em São José dos Campos. Em 2017, realizou as individuais Museu mise-en-scène na Zipper Galeria e Vértices/Vetores no EdA Espaço das Artes, São Paulo. Desde 2010, seus trabalhos participam de exposições coletivas em diversos museus e galerias no Brasil e exterior com obras que integram importantes acervos como o do MAB (Museu de Arte Brasileira-SP), MAC (Museu de Arte Contemporânea do Paraná) e Biblioteca Panizzi (Reggio Emilia-Italia).

Dedica-se ainda ao estudo de obras que aproximam dança contemporânea e artes visuais, ministra aulas e oficinas e orienta projetos. Foi artista orientadora do Programa Vocacional (2017) e em 2018 passou a integrar o corpo docente da Pós-Graduação em Dança e Consciência Corporal das Universidades Estácio de Sá e USCS, ministrando as disciplinas de Processo Criativo e de Composição Coreográfica.

Em sua pesquisa de corpo, dedica atenção a memória, incorporando vivências cotidianas como ferramentas no processo de criação. Elaborou estratégias de composição coreográfica por meio da criação de protocolos de observação e improvisação cênica que passam pelo estudo de Partituras e Notações Coreográficas, e pela construção de desenhos com o corpo no espaço. Como intérprete-criadora, integrou as Cias. Quadrela, Núcleo Mercearia de Ideias e T.F Cia de Dança.

Residências e Prêmios

2019 – Atelie Brooklyn – Brooklyn-NY/Estados Unidos

2016 – Residência 7th Choreographic Coding Lab – Belo Horizonte/Brasil

2015 – Prêmio participação no 65º Salão Paranaense no Museu de Arte Contemporânea do Paraná.

2014 – Residência Cité Internationale des Arts – Paris/França
Prêmio ‘Medalha de Ouro’ em Fotografia no 22º Salão de Artes Plásticas Bruno Giorgi – Mococa/SP
Prêmio Aquisição da Casa de Cultura Rogério Cardoso – Mococa/SP

2011 – Residência Ateliê 397 ‘2º Colônia de férias’ – São Paulo/SP